terça-feira, 22 de setembro de 2015

Esquecer para ser




Com um forte conflito emocional
Repudio este corpo efêmero
pela ausência de desejo carnal,
Por enojar o meu próprio gênero

Sinto angústia apenas por idealizar
toda a biologia contida no sexo,
E preso em um filme de Almodóvar,
Caio em pensamentos sem nexo.

Por que somos tão primitivos?
Por mais que tente, não encontro o meu lugar
Por que somos tão agressivos?
Biologicamente construídos para o ato de violar.

Tento me desvencilhar dessas raízes
sexistas, que agrilhoam meus pensamentos
influenciando nas minhas diretrizes
que os despedaçam em inúmeros fragmentos.

São tantas as pressões comportamentais exercidas
pelos outros, que ser eu mesmo se torna impossível.
Ações que apenas a um gênero são permitidas,
Mas não entendo a sexualidade contida em algo intangível.

O pior é o desejo incontrolável de ser castrado
Por repudiar mil vezes o que realmente sou
Por não ter um comportamento tipicamente másculo,
Com um forte lado feminino que o masculino rejeitou.

Do lado feminino, sinto o medo e a tensão,
Pois mesmo que vá ao seu auxílio de forma altruísta
Sempre há a dúvida da minha verdadeira intenção,
E no final das contas ser um porco chauvinista.

Durante o ato, entendo quem sou e me rejeito.
Me enojo com a ideia de violar para me satisfazer,
Noto que sou o monstro que com todas as forças odeio,
Deixo meu instinto de lado e castro o meu prazer.

Em meu martírio, encontro de uma forma irônica,
Que há uma maneira de me aceitar e me entender.
Nessa dissonância, criar uma forma harmônica
De que preciso primeiramente me esquecer para ser.

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